# 13 - Jesus Life Style



Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
(João 13:15)

Este versículo junto de alguns outros não sai da minha cabeça. Tenho pensado muito sobre o que realmente significa ser cristão e caminhar em um novo e vivo caminho. Tenho feito uma verdadeira peregrinação de Santiago. Peregrinando não rumo a Compostela mas rumo as entranhas da minha alma e da vida de outros que assim como eu, viveram em busca de Deus e dos verdadeiros ideais que Cristo defendeu em sua encarnação.

Tenho passado por crises existenciais ao ver todos os paradigmas que aprendi como “voz de Deus” sendo destruídos um a um. Tudo tem mudado a partir do momento em que me propus a viver toda a teologia que vinha estudando e ao confrontar o comportamento da igreja com a sua pregação.

As mudanças tem sido tremendas em minha maneira de ver-viver a vida e por isso digo, parafraseando Raul Seixas: Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

Com John Piper tenho aprendido que o conhecimento teológico para nada presta além de soberba e arrogância se não ensinar o amor que deve ser vivido;

Com Tolstoi tenho aprendido que quanto mais tentar ser perfeito, mais entenderei a minha fraqueza e que quanto menos me sentir pecador mais perto estou da temperatura que faz Deus vomitar;

Com Luther King Jr. Tenho aprendido que o que mais dói na alma de um servo de Deus não é a influencia e voz maligna do diabo e dos seus “anti-cristos” na sociedade, mas sim, o silêncio dos bons e puros. A negligência dos que deviam fazer algo e nada fazem;

Com Dostoíévski tenho aprendido que não importa o tamanho de meus sofrimentos, sempre terei motivos para agradecer a Deus. Pelo fôlego de vida, pelas flores nos campos, pelos animais nos bosques, pelos juros altos, pelas crises políticas e tudo o mais, pois afinal, o que eu mereço alem do inferno?

Com Santo Agostinho tenho aprendido que o amor é a única força que realmente pode dar liberdade ao homem, para que este venha a agir segundo a mente de Cristo sem peso na consciência e jugo da religiosidade;

Com Philip Yancey tenho aprendido que ‘Graça’ é a única palavra perfeita e imaculada que pode descrever o que deveria ser o cristianismo e como deveria andar a igreja de Deus;

Com São Francisco tenho aprendido a viver mais e a pregar menos, a usar palavras somente quando estritamente necessário e a anunciar boas novas com atitudes de uma nova criatura que somente é nova naquEle que a renovou pela graça que agora carrega no seu viver;

Com Gandhi tenho aprendido que grande alma não é o que convence as multidões, mas o que transforma os corações com amor. De forma que devemos ser e viver as mudanças que desejamos ver na sociedade, entendendo que o agir pesa mais do que o falar, que muitas vezes tem sido um falir nos levando sempre a falhar.

Esses são alguns dos homens que tem sacudido os alicerces da minha fé muito trabalhosamente arquitetada na igreja. Eu amo a igreja, mas quando saio do estado de membro e passo a observador, eu noto que estamos anos luz do que pregamos e dos ideais que tentamos impor sobre a sociedade hipocritamente.

Um questionamento de um cristão hindu durante uma reunião na índia me deixou sem respostas. A maioria dos irmãos da índia que passa uma temporada no ocidente volta para sua terra natal fascinado com as igrejas lindas e faraônicas, com os pastores televisivos e o dinheiro que arrecadam a cada programa. Falam de líderes que se encontram com políticos e constituem em sua maioria a classe média e rica, com uma vida totalmente oposta aos santos da índia.

No ocidente ninguém é chamado de ‘Grande Alma’ e é fácil notar o poder e sucesso da igreja em crescer e expandir território seu na terra enquanto o céu continua com terrenos baldios e vagas em aberto para verdadeiros adoradores.

A reunião continuou com um cristão americano, Yancey, tentando incentivar os hindus a adotarem os princípios virtuosos de Gandhi e se lembrarem de que ele dizia que as respostas para o ocidente estavam no oriente.

O americano argumentava que na América os jovens ouviam falar de Gandhi antes de ouvirem de Jesus, e o próprio Luther King jr. fora influenciado pelo ‘Grande Alma’. A voz do oriente seria ouvida no ocidente dizia ele.

No final desta reunião, um jovem discípulo de Cristo nascido na terra de Gandhi levantou a questão cujo qual resposta não obteve.

“Não entendo. Parece que o ocidente de modo geral é receptivo a um santo como Gandhi, que se levanta defendendo ideais distintos da cultura em que vive. Mas será que a igreja é receptiva?”

“A igreja ocidental moderna nunca criou um santo que trilhasse caminhos semelhantes ao de Gandhi. Todos os líderes são diferentes dele e parece que se um se levantasse na América com os ideais de Gandhi, não seria levado a sério e seria ridicularizado talvez.”

“O pior é que apesar disso, os cristãos ainda se dizem adoradores de Jesus Cristo. Por que eles não rejeitam Cristo? Ele viveu uma vida simples, pregou o amor e a não-violência, recusou-se a se comprometer com os poderes desse mundo. Pediu a seus seguidores que carregassem as suas cruzes e suportassem os sofrimentos.”

“ Por que os Cristãos ocidentais não Rejeitam a Cristo?”

Neste ponto eu volto para o versículo que abre o desabafo que é este texto. Jesus nos deu o exemplo. Ele lavou os nossos pés, o nosso corpo e nossa alma. Por que conseguimos ser, tão omissos em amar e viver como ele nos ensinou?

O estilo de vida capitalista-hedonista-secular tem tomado conta de nossas igrejas. Adotamos os mesmos sistemas e métodos para fazer a igreja crescer, ficar conhecida e atraente para o público alvo. Nossos objetivos pessoais estão tão vazios de conteúdo solene piedoso e gracioso que somos praticamente apenas mais uma religião.

Nossos jovens só pensam em diplomas, carros, e casas de praia. Os sermões são todos de caráter moralista, onde a prioridade é parecer santo, ainda que não se seja.
Repito a frase de Caio Fábio e digo que a igreja está tentando se enganar, está querendo ser sem se tornar.

Muitas vezes sinto que tem algo de errado comigo, pois sou visto como conformista e derrotista simplesmente pelo fato de não ter sonhos e ambições materiais. Adoraria ter uma vida confortabilíssima com a minha família e muita riqueza, mas o estilo de vida que desejo ter não combina com o caminho que quero trilhar.

Quanta vez em oração me pegava confessando meus medos do futuro; medo de não ter dinheiro; medo de não ter uma mulher disposta a viver sem luxos em uma casa pequena e simples; meu medo de não ser reconhecido e bem sucedido. Mas notei que tudo isso estava na direção oposta da vida de santidade, devoção, serviço e entrega ao próximo que gostaria de levar pela bandeira de Cristo.

Não sou contra riquezas e entesouramento, mas tenho tido que orar e vigiar, pois tenho visto que a boa semente tem caído em solo espinhoso. E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera; (mt 13:22).

Alguns dias atrás eu passei por uma experiência traumatizante para minha alma.

Era noite, eu estava em um ônibus cheio, carregando uma grande sacola com meu teclado e mouse novos. O embrulho chamava atenção e logo quando entrei no ônibus, identifiquei 4 assaltantes em potencial.

Passei a viagem toda orando silenciosamente, pois não queria ser assaltado. A neurose somente terminou quando fui sincero em oração e me expressei ao senhor de forma verdadeira.

“ Senhor. Estou orando pedindo que o Senhor evite o assalto, mas o que me leva a orar não é o receio de uma tragédia, não é o zelo pela minha vida ou dos demais e nem é preocupação de que o assaltante se afunde mais no pecado. A minha preocupação verdadeira é com as minhas coisas e o meu dinheiro. Me perdoe Senhor!”

Nesse momento eu parei e me lembrei de uma situação onde Gandhi disse que precisava ser simples e não ter nada além do que podia carregar na sacola, pois qualquer outra posse se tornaria em prisão para ele, atrapalhando em suas decisões e postura diante dos ventos da vida.

Eu realmente entendi o que o ‘Grande Alma’ quis dizer.

Por causa de pouco mais de R$60,00 eu estava em um estado de pânico, estava apavorado com 4 pessoas que sem nada fazer foram condenadas como salteadores. Estava totalmente embriagado com os cuidados desta vida e vi que realmente Salomão tinha razão. Quem tem pouco, pouco se preocupa com o que tem a perder.

Nesse dia nada aconteceu com meus bens, porém o meu bem mais importante estava danificado. Minha alma estava ferida com o pecado do Juízo que fiz dos passageiros, com a minha avareza e meu materialismo insensível. Além de minhas orações malignas e pensamentos impiedosos e racistas.

Sempre que acontece algo assim, eu me lembro da frase de Jesus onde ele nos lembra que o exemplo nos foi dado para que fizéssemos igual e nunca consigo esquecer o texto de João 8:15. “Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo.”

Como temos sido falhos! Nossos irmãos do oriente não concordariam em nada com nossas pregações sobre prosperidade, negócios abençoado, a lei da sementeira do dízimo e adoração extravagante. A única coisa que faz sentido lá é chorar com os que choram, andar mais uma milha com os irmãos e perseverar até a morte se preciso for. Oque diriam de nós os missionários coreanos que tem morrido nas mãos dos talibãs?

Meu Deus! Por que achamos que uma vida simples, sem riquezas, sem glamour e sem farturas não é abençoada?

Por que queremos ser como Pedro, Paulo e João, mas não queremos ter a vida que eles tiveram?

Por que pregamos e perseguimos um estilo de vida que o Senhor não viveu, que os discípulos não viveram e que nenhum dos profetas viveu?

Por que temos visto os anjos mais como office-boys e despachantes de bênçãos do que como conservos divinos?

Por que condenamos o estilo de vida de Jesus, mas não o condenamos? Será isso incoerência ou um senso de verdade latente em nós que deseja despertar, mas que tem sido sufocado pelos cuidados desta vida?

Por que Cristo é respeitado e admirado por quase todo o mundo e os cristãos são vistos com tanta repulsa e desconfiança?

Por que temos visto o Senhor mais como Salvador do que como Senhor?

E por que me chamais, SENHOR, Senhor, e não fazeis o que eu digo? (Lc 6:46)
Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.(Jo 13:15)

Aqui termino esse desabafo, pedindo a Deus que nos ajude a retomar os verdadeiros princípios elementares, do amor, Graça, compaixão, Misericórdia, generosidade com os necessitados e sensibilidade aos oprimidos e sobrecarregados.

Graça, paz e Jesus Life Style para todos os que são chamados para testemunhar a Cristo com ou sem riquezas e adendos!

Pep.


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    # by Unknown - 5 de agosto de 2007 às 19:27

    De fato, pecisamos voltar ao Primeiro Amor. Quanto mais o cristianismo "avança", mais se distancia dos principios do evangelho, mais ficamos flexiveis ao mundano e abertos ao materialismo. Será que tido isso não se encaixa no versiculo do "... o amor de muitos se esfriaria..." ?


    Rodrigo
    http:www.anjodosenhor.blogger.com.br/

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    # by Éverton Vidal Azevedo - 23 de agosto de 2007 às 17:43

    Fui abençoado com este texto!

    Abraços!
    Inté!