#30 - Copacabana, o por-do-sol e a profecia



Dois homens caminhavam pela orla de copacabana, vestiam roupas leves e comuns e o mais velho até usava um chapéu florido. Não eram quaisquer dois homens que caminhavam errantemente, mas se tratavam de dois homens religiosos que queriam trazer algum sentido as suas existências terrenas.

Ambos caminhavam para a casa do filho do velho, pois iriam pegar a jovem netinha dele para ver o por do sol na pedra do Arpoador. O jovem acompanharia-os por temer a violência da noite carioca.

O mais novo possuía muito desejo por sabedoria e por entender os mistérios da vida; já o mais velho vivera tantos anos nessa busca que já não se afobava como seu jovem companheiro. Era o encontro da velha geração com a nova geração, em um lindo cartão postal da velha e sempre nova glória de Deus.

O jovem muito enérgico e com um espírito libertário-polêmico, típico dos jovens. Sempre procurava caminhos e formas para revolucionar a igreja, renovar o entendimento do povo e reviver a simplicidade dos ensinos dos mistérios da vida.

O velho sempre silencioso e observador. Dotado de um sorriso simples, que fazia parecer que ele sempre estava um passo na frente, como se nada fosse novo para ele, numa postura Salômonica de que nada mais lhe assustava e nada mais o empolgava, pois tudo era sempre igual e cíclico na vida entre os homens.

O jovem dedicava horas e horas escrevendo textos para seu blog, tentando reeditar os provérbios e salmos em uma linguagem moderna, sempre com esperança de que as pessoas fossem impactadas pela graça de Deus, como se ela fosse algo novo no mundo e que ninguém a conhecesse além dele.

O velho dedicava seu tempo a observar o curso da vida, e se enfadava em ver como nada mudava, desde os tempos de Noé, todo mundo só pensa em casar, comer e beber. A vida era na verdade uma grande canseira e nada valia a pena demais para fazê-lo crer que valia a pena viver neste mundo.

O jovem fazia muitas perguntas ao velho e sempre queria saber mais e mais sobre os mistérios da vida. Muitas vezes, em seu interior, julgava o velho como frio ou sem fé, pela forma estagnada com que vivia. Velhos sempre conservadores e antiquados!

O velho respondia muitas perguntas do jovem e sempre sentia que ele nada entendia, pois era comum ele refazer as mesmas perguntas alguns dias depois. O jovem falava tanto que não tinha capacidade para ouvir o que escutava, era essa a imagem que o velho tinha dele em seu interior. Jovens sempre tardios em ouvir!

O jovem abria mão de muitos prazeres simples da vida para se atirar de cabeça em obras que ele cria serem de Deus. Foram muitas as festas da família, passeios , baladas e aniversários dos amigos em que ele ausentou-se para participar de algum congresso, seminário ou palestra religiosa. Sempre crendo que isso era a melhor coisa da vida.

O velho faria de tudo para poder voltar no tempo e aproveitar ainda mais as coisas simples de sua juventude, a mulher de sua mocidade, o fruto de seu trabalho honesto e o cotidiano da caminhada. Sempre crendo que isso era a melhor coisa que cabia ao homem fazer em sua vida sem sentido.

O jovem e o velho eram muito diferentes, mas havia um sentimento mórbido nos dois, que os faziam crer que eram muito iguais e por isso andavam juntos.

Neste momento eles chegam a casa da neta do velho e após os devidos cumprimentos e recomendações de praxes, o trio volta a caminhar em sentido oposto. A pedra do Arpoador era o destino desses dois homens angustiados e desta criança cheia de vida e alegria.

O velho sabia que como o jovem era, ele mesmo já o fora e nisso se angustiava por sentir que o velho de amanha será igual ao de hoje, pois o jovem de ontem foi igual ao jovem de hoje. Já o jovem tinha medo do futuro, pois notava que nem toda a experiência e sabedoria do velho o impediram de se tornar num velho tão diferente daquilo que ele mesmo queria ser, logo o que o impediria te ter o mesmo fim do velho?

O jovem cria que mudaria o mundo
O velho cria que o mundo nunca mudaria
O jovem cria ser o grande transformador da igreja
O velho cria que a igreja era a grande devoradora da força dos jovens
Ambos, jovem e velho, eram muito diferentes em suas formas de viver e pensar.

O velho se lamenta ao ver o jovem e sua forma de viver e pensar e dizia dentro de si mesmo, que sua vida teria sido melhor se ele tivesse encontrado um velho sábio como ele mesmo, quando era apenas um jovem.

O jovem se lamenta ao ver a falta de poder e obras do velho e dizia dentro de si mesmo, que se encontrasse pelo menos mais um jovem como ele mesmo, o mundo veria novos reformadores imbatíveis.

O sol estava para se por e ao cair do astro rei, caia também neles, uma angústia que era fruto da necessidade de dar algum sentido e algum propósito maior para suas existências. Suas conversas rotineiras sempre terminavam assim! Se falava sobre tudo e nada se mudava.

A pequena criança se anima com o por do sol, e fica fascinada ao ver a noite chegando. Tanto o jovem quanto o velho se admiram pela singela reverencia com que a criança admirava um evento tão natural que ocorre todos os dias. O velho continuava amargurado pela vida tediosa e sem sonhos e nada fazia pois não cria que terminaria algo. Já o jovem continuava fazendo as mesmas coisas, iniciando projetos e nunca os completando, dando voltas em círculos. Mas a pequena criança não. Cada dia para ela era uma aventura, uma nova descoberta, ela falava da vida como quem profetizava.

- Vovô!!! Será que o sol vai voltar amanha?

A pergunta da criança quebra o clima angustioso entre os dois, e um breve momento de descontração os abraça. Neste exato momento todos olham para o céu e percebem uma estrela cadente. O jovem incentiva a criança a fazer um pedido, enquanto ele mesmo e o velho o estavam fazendo, em secreto é claro!

Os três fitam os olhos na estrela cadente em silencio. O velho se lamenta pela velhice e sem fé pede que Deus lhe de alegria de viver; o jovem por outro lado, agradece por sua varonilidade e pede que sua juventude seja marcante para o mundo, mas a criança apenas sorri e fica olhando para os dois, com uma cara de quem fez alguma travessura.

O jovem ri sem entender nada e o velho tem seu sorriso salomônico desfeito pelas gostosas gargalhadas da pequena criança. Os dois homens tão aplicados aos mistérios da vida, precisavam de ajuda para discernir o que aquelas gargalhadas significavam.

Em meio a muita euforia a criança pega na mão do velho e depois na mão do jovem, e os três ficam de mãos dadas. Com um brilho no olhar ela conta aos dois qual foi o seu pedido, deixando-os estupefados ao serem tao surpreendentemente bombardeados pelas palavras daquela criança.

- Vovô! Eu pedi que o senhor tivesse sonhos! Eu lembro de suas histórias e aventuras e queria que o senhor voltasse a ser feliz como parecia ser nessas histórias!

O velho fica atônito e sério, enquanto ouve uma explosão de risos do jovem na outra extremidade do trio de ciranda que se foi feito através das mãos dadas. Neste momento a menina olha para o jovem e com um ar de preocupação no rosto lhe revela seu outro pedido.

- Eu também pedi que você tivesse visão! Pois me parece que está vivendo as mesmas aventuras do vovô, mas temo que acabe se tornando como ele...triste!!!!

O jovem e o velho ficam realmente tocados pela sensibilidade da menina e então a indagam sobre as muitas gargalhadas. Por que ela estava tão eufórica e alegre? Parece que ela cria mesmo que teria seu desejo atendido por causa de uma estrela cadente. Eles sabiam que estas coisas não tem efeito sobre a vida real, mas o que será que a fazia rir tanto?

- Vovô!!! Titio!!! Eu rindo porque eu sei que a vida de vocês vai mudar! Eu acho que aquela estrela cadente era o papai do céu descendo pra realizar o meu desejo, mas o ruim é que só vocês que vão se dar bem! Eu mesmo não recebi nada! Mais o tio Joel da igreja disse que é melhor pedir pros outros do que pra gente.

Neste momento o Jovem e o velho ficam sérios, olham um para o outro e se assustam ao ouvir o nome do professor da criança. Eles ao mesmo tempo em que se assustam por ouvir essas palavras da criança se alegram por lembrarem das palavras de Joel, não o professor de crianças, mas o profeta de Deus:

"E acontecerá que, derramarei o meu Espírito sobre todos, e vossas crianças profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões." (joel 2:28)

A criança nem sabe que profetizou na vida do velho e do jovem, mas nela se tornou claro a realidade de que a vida deles só teria sentido quando realmente fossem como crianças. Vivendo cada dia como se fosse um dia único e cheio de emoções e aventuras. Crendo que qualquer estrela cadente pode ser a manifestação de Deus em suas vidas e que a qualquer momento a vida deles poderia mudar.

Aquele velho voltou pra sua casa renovado, crendo que deveria lutar pelos seus sonhos e voltar a crer que voará alto
Aquele jovem voltou para casa renovado, crendo que ele não é o certo e todos errados, mas que deveria ter visão para não desperdiçar sua juventude

Mas aquela criança! Aquela pequena criança voltou para casa como voltava todos os dias, cheia de alegria por ter vivido mais um dia de aventuras! Cheia de historias para contar e com muita vontade de que chegue logo o amanhã onde ela terá mais e mais aventuras criativas!

Que todos os velhos voltem a sonhar crendo que podem realizar grandes feitos ainda!
Que todos os jovens tenham visão da vida para nunca se perderem por caminhos que lhes tornarão em velhos tristes!
Que todas as crianças sejam proféticas, anunciando a todos que o futuro será uma grande brincadeira! Nos jardins e parques da Nova Jersualém Celestial!

Sendo assim, vivamos em paz com a nossa vida, e com a vida dos outros, pois tanto uma quanto a outra cooperam pro nosso bem! O espirito do Senhor nos conceda a graça de termos sonhos, visão e fé para caminharmos com Deus em novidade de vida, como profetas errantes, como santos felizes e como povo escolhido de Deus!!!!



Fiquem com Deus, o único que poder fazer velhos sonharem, jovens amadurecerem e crianças profetizarem!!!!


PEP